5.8.11

Chuva Torrencial

Chove há alguns dias dentro de mim. Chuva torrencial, inexplicável, sem sentido. Entre raios e trovões do meu eu, do meu interior, nas dúvidas de mim que pensa no inicio meio e fim. Ouço tiros, ouço o som da discórdia e da prepotência. Eu morri várias vezes para entender que o problema sou eu e não o meio em que vivo. Sequer eu pedi desculpas para meu espírito cansado, ele entendeu e me perdoou mesmo sem eu ter perdido o seu perdão. Chuva torrencial, se ela cai em minha alma e no mundo exterior por que não cairá nos amores do passado? Afogar-me em copos etílicos, afogar-me em lágrimas sem sentido, ser um caminhante sem um nome, sem uma razão, na mágica do adeus e do passado.
Já não tenho a paciência que eu deveria ter.
Meu riso é um pranto, não noto, nem penso nas ideias conjugais, quando digo isso, do eu e de minha'alma. Machado de Assis estava certo: "ao vencedor, as batatas".
Nesta trovoada atípica para a temporada, pois era para eu estar vivendo os calores de uma primavera, mas chove e faz frio, nada posso fazer. Protejo-me corro da chuva, caio nas poças d'água que a vida me preparou. Tudo parece ser tão infinito e tão finito que perco-me nas entrelinhas.
Chove aqui dentro
E é torrencial.

19.7.11

Sobe o pano

O teatro dos pensamentos humanos está aberto novamente para receber seu pequeno público, está aberto para os anarquistas e para os que são chefiados, crianças e adultos, meninas e adulteras. Os atores estão prontos mas não há ator, nem atriz, nem poeta, nem atormentado, nem a tristeza humana, não entra em cena e não há iluminação. O teatro dos horrores horripilantes e vibrantes abriu vagas e aceita faxineiros especialistas em esconder a sujeira debaixo do tapete.
O teatro dos pensamentos humanos está aberto, vivo, morto, anda e anda por aí, tenta se divertir e divertir seu público, seu público  de gente animal, gente feral, bichos escrotos.
O palco está lá, brilhante como sempre foi. Já pisaram em suas madeiras os maiores nomes que se pode conhecer em uma galáxia, todos os grandes nomes lá pisaram e não pisaram mais, o palco não se importa e se importar algo ele não diz. Deixe o show começar.
Apagam-se as luzes.
Entram os poetas.
Suba todas as cortinas.
Suba todos os preconceitos
Suba todas as almas
Suba o inferno
Suba
Chorar faz parte do espetáculo.

21.4.11

Um.

O show começa.
Os palhaços recebem as pessoas
e as crianças, com seus saquinhos de pipoca, sentam-se.

O chão.
O mar.
A vida.

Nas areias das praias mais remotas do mundo
o frio que se sente ao deitar no chão da sala
Televisão desligada.

Temos que concordar, temos mais do que precisamos.

3.11.10

Cavalos

                Estou sem camisa. A água está muito fresca e sol das três horas deixa o dia com um tom de sérpia que me faz lembrar do passado, muita agitação no riacho estou nadando com cavalos selvagens em um lugar que nem em meus sonhos existiria. Meu corpo molhado se refresca na sombra, vejo os animais partirem em sua viagem sem fim, as vezes penso que eu gostaria de estar partindo com eles para onde for, dizem que isso é um ato egoista, fugir é um ato egoista antes de ser um ato covarde mas, penso, de quem ou de que eu estou fugindo?
            A vida é feita de sonhos, se você perde os seus então você perde sua vida, eu penso nestas coisas enquanto os cavalos selvagens atravessam os perigos do rio. Eles são corajosos e não pararam até encontrar seu destino, não creio que eles sonhem com isso mas em seus corpos cansados apenas o objetivo os mantem de cabeça erguida. Eles são selvagens e livres, vivem uma liberdade que eu, com toda a sinceridade, invejo! Eles não precisam provar nada para ninguém, eles apenas correm nos verdes campos buscando os hálitos mais frescos da natureza, nossas invenções do século XXI não são úteis para eles, nossa modernidade e nossa sociedade nada servem para os cavalos selvagens, para eles a lei é a liberdade.
            As águas deste rio não seram as mesmas, o nome disto é “Devir” e rege tudo que é vivo, nunca seremos os mesmos pois nossa mudança, aquela que está encravada em nossa pele, fará tudo o que for necessário para mudarmos, talvez o eu de ontem seja um eu diferente amanha, próvavel que este mesmo eu que observa os cavalos hoje será o eu que dará o nome a sangue para o livro da vida.
            Os cavalos passam.
            Tudo passa.

29.9.10

Palhaço

Diante do espelho estranho que a vida nos apresentar, retirar a maquiagem é um ato tão triste para um palhaço mas isso impede que as lágrimas borrem seu rosto feliz. Nas duas máscaras que deram origem ao teatro - o riso e o choro - e no encontro destes fieis amantes que se completam tanto no claro como no escuro da alma. Os dedos tocam o intocável e os reflexos mostram-se como piadas mal-contadas, como versos mal-feitos, como palavras mal-escritas. Na busca de entender o que é a amizade e o amor, talvez um traga ao outro a felicidade ou a tristeza múltua.
Há perigo no seu olhar, está cravado em meu coração o que seu olhar representa para mim, o medo, a angustia me trouxe uma certa serenidade para analizar as coisas dando sempre um passo para trás. Observar e inferir o que se deve observar e inferir, finda em mim alguns sentimentos obliquos, finda em mim uma música que eu escutara há tantos anos que é provável que o criador de tal música já nem exista mais.
Ela tem perigo em seu olhar.
Suas mãos tremem enquanto ela escreve.
Ela tem um ano de idade, ela tem cem anos de idade, ela nasceu e morreu, ela está tirando a maquiagem diante do espelho, lágrima desce.
Tenho medo de nunca envelhecer, ter a sensação que nunca estaremos preparados para sermos consumidos por tudo isso que nos ronda. As vezes ao saír na rua tenho a sensação de ser invisível aos olhares da multidão, me conforta saber que cada ser é invisível ao ser do seu lado, todos somos seres invisíveis uns aos outros até que possamos mostrar o que somos de verdade e aí que decepcionamos pois somos apenas a cópia do que o o outro é.
Chegamos em casa e tiramos nossa maquiagem de palhaço.

21.9.10

Moderno Mundo Moderno Mundo Moderno Mundo

Tenho me divertido bastante ultimamente. Ando contando os dias mas sem ter um presuposto aparente, ando contando os dias para ter o que contar. Na natureza, os animais são livres porque não prestam contas a ninguém. O meio urbano nos trás muitas facilidades porém temos um preço a pagar por elas; temos que prestar contas a sociedade sobre o que nós somos para usufruir de seus bens "naturais"
A má notícia é que não podemos nos abdicar disto.
Vive uma vida consumista não é tão fácil como se deveria ser. Não nascemos com o manual do mundo moderno guardado em nossos berços. Aprender é duro, viver é difícil e como diria Machado de Assís: "Morrer é fácil, para morrer basta apenas estar vivo".
Não será tão fácil se não estamos vivos, certo?
Luzes laranjas no poste.
Ultimamente tenho me indagado sobre os motivos da humanidade e como chegamos até aqui. Passamos por fome, frio e guerras. Fomos da privação a liberação do sexo, das drogas e do rock and roll. Hoje temos poucos sobreviventes do  passado. Pergunto-me por que ainda sim é fácil morrer hoje em dia? Não inventaram uma maravilha moderna para retardar isto?

"Compre agora este novíssimo colete à prova de balas!"

As vezes eu esqueço da existência da "Polyshop". Um colete à prova de balas vai nos proteger de nós mesmos?

17.9.10

Meu abstratismo não me deixa responder tantas questões metafísicas como eu fazia antes. E a falta de tempo, e a falta de tempo!
Rhuan, tira a máscara e jogue-se no mar.
Impossível minha loucura, impossível.
Nas linhas duras e versos brandos de noites que a questão não é uma mera questão, os problemas se mostram em faces frias. Há o problema do homem atropelado pelo ônibus, há o problema da mulher que não consegue falar, um problema de alguem que não sabe amar. Amor, amor, amor!
Que Deus nos perdoe, mas sou um pecador nato. Curto alguns dos 7 pecados e estou praticando o oitavo que é escrever desordenadamente sem uma ideia aparente. Tudo é tão vasto nesta noite estranha (que noite não é?) que parece-me um mundo novo a cada segundo. Dizem que temos que destruir todos os dias um mundo para que possamos ser livres mas, quem quer ser livre? Quem ousa?
Tento escrever com mais frequência minhas memórias ainda não póstumas. Não sou Brás Cubas, não sou um Assís e muito menos sei usar "Machados" (minhas irônias não chegam aos pés do grande mestre) mas sou um realista e para mim a água está no copo.